Por 42 dias, 46 degraus acima e 46 degraus abaixo.
Para muitos, apenas 42 dias e apenas 46 degraus.
Lembro-me exatamente do primeiro contato com o processo
chamado “radioterapia”.
Estava ali, tampando os meus seios com um pequeno pedaço de
tecido feito de algodão. Insegura, com a respiração ofegante... Sentindo um
frio danado de forte (ou tremendo de medo e ansiedade, talvez).
Fui deitada a maca milimetricamente arrumada para o meu
corpo, agora desnuda, com o braço esquerdo dobrado em um ângulo de 90 graus, observando
algumas linhas vermelhas no teto e tentando não demonstrar insegurança.
- Esse primeiro procedimento de marcação ao corpo é um
pouco demorado mesmo, mas garanto que amanhã você não ficará por aqui durante
muito tempo. Disse o radioterapeuta simpático, aparentando um profundo
conhecimento das minhas expressões faciais de desconforto.
Quando ele saiu da sala e pude finalmente ter a
oportunidade de encarar o aparelho, quis fechar meus olhos e novamente, agradecer.
Mais uma vez, recebi a oportunidade de lutar.
Maquina ligada, barulhinho estranho, respiração ofegante,
52 segundos.
42 dias.
Por 42 dias: 46 degraus acima, seios descobertos, maquina
ligada, barulhinho estranho, respiração ofegante, 52 segundos de agradecimento
a vida e 46 degraus abaixo.
Hoje, enquanto me despedia desse processo, contei
pacientemente cada degrau escada abaixo.
Precisei descer 46 degraus para entender que na verdade,
eu subi. Subi e cheguei ao topo minha residência interior: cheguei à cobertura.
E se pudesse mesmo lhes confiar o maior segredo de todos os segredos, diria que
daqui de cima a vista é incrivelmente incansável de se admirar.
Para chegar ao topo, tive subir degrau por degrau e através disso, parar em diversos andares. Escrevi
sobre as dores, as flores e os espinhos. Escrevi sobre a vida e sobre a morte,
facetas de uma mesma moeda. Contemplei a natureza da alma, a beleza do sorriso
e o poder contido dentro dos que são felizes. Sofri com fechamentos cíclicos,
me despedi do que realmente amava, decidi a minha conduta pós “segunda chance”.
Subi degraus, desci inúmeros degraus. Escrevi e apaguei. Apaguei e recomecei. Reescrevi
a vida a caneta, sem a insegurança pela falta de lápis.
Aprendi o que ensinei.
46 degraus acima.
Eu sabia que a vista incansável existia e estava a minha
espera. Eu sentia.
Apenas 46 degraus acima.
Obrigada a todos vocês, pela experiência incrível de
acompanhar todo esse processo através das minhas palavras. Obrigada por todas as
lagrimas, obrigada principalmente pela sensação de utilidade.
Aqui, no topo da minha nova residência, minha vista não
contêm mais o câncer, contêm apenas o que aprendi com ele.
Mais uma vez, sempre... e para sempre.
Tô Orgulhosa.
ResponderExcluirTemos mais alguns degraus para subir até o final do ano..=) Com você ao meu lado, juntas, sempre... Tamo
Por favor, não pare de escrever. Precisamos de você, da sua forca e dos seus textos.
ResponderExcluirPor favor, pense a respeito.
Querida Evelin. Quiz o destino que hoje, no mesmo dia que voce se despede, nos tb aqui, recebemos uma boa noticia sobre minha filha Maisa. Alguma coisa existe entre nos. Nunca nos vimos, mas isso eu nao sinto. Te conheco de algum lugar, Vibro por voce e torco para que um dia eu possa te abracar e te dizer o quanto voce e importante nesse processo nosso. Beijossssssssss e boa sorte em sua nova caminhada.Anaaguiar
ResponderExcluirparabéns...super parabéns!
ResponderExcluirSo para acrescentar minha escrita, NAO PARE DE ESCREVER, PLEASE!!!
ResponderExcluiranaguiar
Que grande honra poder estar presente nesse momento! Obrigado por tudo que você me trouxe com a sua conduta! Obrigado de coração!
ResponderExcluirque luta nao e cada degrau uma vitoria e voce vencera todas elas meu amor tem muita gente felizpor voce pelo que voce faz as pessoas que estao nesse processo tambem por isso meu amor nao pare de escrever as pessoas se espelham em voce na sua conduta na sua força te amo nao para naooooooooooooooooooooooo
ResponderExcluirMinha querida,eu te admiro,voce é dessas pessoas que nao se deixam abater e sabe que amar a vida é fundamental para vencernesta selva de pedra em que vivemos.
ResponderExcluirVoce aprendeu nao deixar seu coraçao com tristezas e nele so deixar o amor .
Voce olha um pouco mais o verde,voce conta os degraus,olha o colorido das flores,sente o senti o perfume delas curte o cantar dos passaros,senti o cheiro da trra que recebe a chuva,procura fotografar coisas que para outros nao tem valor,enfim terei que escrever muito para lhe dizer o quanto e bom ficar perto de voce sentindo seu calor insubistituivelsou uma pessoa previlegiada por poder estar sempre a teu lado .te amo voce sabe sua Abuielita
evelin querida, estou muito feliz por vc, mas por favor nao pare de escrever, as pessoas precisam sentir sua força, sua maneira construtiva de enfrentar cada situação. vc tem muito que passar para as pessoas,não pare! bjs, fique com Deus.
ResponderExcluirE impossivel ler e não se emocionar!
ResponderExcluirPARABÉNS PELA VITÓRIA E PARABÉNS POR
VOCÊ APRENDEU COM O CÂNCER!!
Felicidades!!
Você é uma taurina. E eu bem sei o tanto de vida que pulsa dentro de um ser de chifres. Você teima em viver e isso é a sua cara. De outra taurina, beijo.
ResponderExcluir