A fisiologia do levantar

Na zoologia, usa-se o termo “bípede” para qualificar os animais terrestres que se deslocam normalmente na posição vertical, como o homem e outros primatas, assentando no solo apenas as extremidades inferiores.

Não importa quantas vezes à vida te faça sentir na pele a sensação de queda livre, o valor dessa experiência encontra-se exatamente no reconhecimento da sua capacidade de retornar a posição vertical.

Passei uma boa parte da manhã deitada enquanto tomava banho. Não sei o motivo, mas as sensações físicas me eram muito parecidas com os efeitos da quimioterapia: aquela tontura que te faz perder a noção do tempo e do espaço, uma disposta indisposição física, associada a aquela fraqueza típica de uma bendita falta de comunicação entre corpo e mente.

Digo bendita (e bem vinda), pois de todos os “bons frutos” que recolhi com o câncer, passar por todo esse processo de reconhecimento foi a resposta que pedi para esse novo rumo em relação ao meu tratamento.

 Agradeço o chão, o resultado desse novo processo (que será até o final do ano uma nova mastectomia para a retirada da outra mama) e os meus momentos de queda. Sem eles, dificilmente teria a oportunidade de reconhecer o meu tamanho e os meus limites. São nesses momentos que a gente costuma manifestar as reações mais lindas.

 Eu vou em frente... E pra frente. Sem medo e cantarolando. Sem medo e acompanhada. Sem medo... E lutando.

Bípede, como a natureza me criou. Bípede, porque verticalmente chego mais perto de encostar o céu. Bípede, porque não desisti de reconhecer a beleza da fortaleza... Graças as quedas, que engrenam mais e mais o meu desejo de sobrevivência.

Assim será. Sempre...e pra sempre.

E vamos em frente.